É com grande alegria e muita honra que divulgo aqui os prêmios que o Coletânea do Saber recebeu da gentil Simone Pinheiro.
Escolhi o livro Porto de Sonhos, pois é ele o nosso porto de encontro com nossos amigos poetas.
Aproveito para agradecer ao amigão Joaquim Marques que tem colaborado incansavelmente com o nosso Coletânea, fazendo com que possamos melhorar sempre e mais nossa sala de leitura e assim levar a todos que nos lêem poesia da melhor qualidade e conteúdo de interesse para os pequenos e para os adultos.

Obrigada amigos que nos prestigiam por nos ajudarem a fazer do Coletânea do Saber esta agradável viagem ao mundo encantado da poesia e do conhecimento.
Com carinho

Augusta Schimidt







OS PERSONAGENS DO POEMA “É NATAL”


É Natal,
Mas talvez nem todos saibam,
Talvez porque não caibam
No Natal.

Seu nome é José,
Ele não tem Maria
Já teve um dia
Hoje é só o Zé.
O Zé lá da praça
Que fala sozinho
Ou fala com os anjos,
Que fala baixinho
E sorri pra menina
Um anjo que passa
Que não fala com o Zé.
Ninguém sabe quem é,
As flores, o vento,
Os grãos de areia
Entendem José.
Os pássaros também.
A praça limita seus passos
Mas não seus pensamentos.
Sua mente alceia, alceia,
E passeia muito além.
Ninguém conhece o José,
José não conhece Belém.
A árvore de Natal na praça
Para José não passa
De uma alegria iluminada
Que pisca e pisca pra ele,
Que pisca e pisca, mais nada.

Seu nome é Maria
Da porta da igreja,
Está ali todo dia,
Talvez só Deus a veja.
A igreja é de Deus.
Ela ouviu a história
Dos bondosos Reis Magos.
Eles passam pra lá,
Eles passam pra cá,
Sem mirra, incenso ou ouro.
Para ela são Reis Magos
Que não lhe dão afagos,
Que não lhe dão presentes.
Nada ouvem por mais que peça
Pois, toda aquela gente
Leva nos pés muita pressa.
Sem pressa tocam os sinos
O seu anúncio etéreo:
“Nasceu o Deus-Menino”.
Plantam-se ceias nas mesas,
Ouvem-se coros, orquestras,
Mas Maria não tem mesa,
Maria nem tem janela
Só tem a porta da igreja
E uma natalina certeza
De que a noite que agora boceja
Vai dormir sem lhe trazer festa.

Seu nome é Jesus,
Jesus, menino, 10 anos.
Ele não tem segredos
Apenas certezas miúdas
E muitas mágoas graúdas
Que esmagam a criança
E constroem sua cruz.
A boca gelada de silêncio,
Silêncio que grita mais alto
Que a voz das passeatas,
Que esconde o seu medo.
Escolaridade: mendicância.
Ele povoa a cidade
Entre tantos Jesus,
Entre tantos contrários,
Sem manjedoura, sem berçário,
Carregando sua fragilidade
Sem cobrar o que a vida
Há muito lhe deve: a infância.
Jesus, 10 anos, menino,
Por ele passam os sonhos
De tantos que levam planos
Na cabeça, nos passos,
No olhar, no sobressalto.
Nas mãos de Jesus uma lata
Onde cabe o seu espaço,
Onde fecha o seu destino.

É Natal
Mas eles não sabem,
Talvez porque não cabem
No nosso Feliz Natal.

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Autor: FRANCISCO SIMÕES
Em: Dezembro / 1998

Reeditado em Novembro de 2011

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